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" No Azul--qual uma esfinge--eu reino Indecifrada. " [Baudelaire]

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Enquanto Falavas

[Amor e Dor de Edvard Munch]


Enquanto falavas de um mar

derramei sobre o peito os escombros da casa

reconheci-te

nos alicerces devorados pelas raízes das palmeiras

na sombra da ave deslizando junto à parede

no foco de luz rompendo o tijolo onde estivera a chaminé

vivemos aqui

com o ruído dum cano ressumando água

até que o frio nos fez abandonar o lugar e o amor

não sei para onde foste morrer

eu continuo aqui... escrevo

alheio ao ódio e às variações do gosto e da simpatia

continuo a construir o relâmpago das palavras

que te farão regressar... ao anoitecer

há uma sensação de aves do outro lado das portas

os corpos caídos

a vida toda destinada à demolição

tento perder a memória

única tarefa que tem a ver com a eternidade

de resto... creio que nunca ali estivemos

e nada disto provavelmente se passou aqui

[Al berto, in O Medo - "O Esquecimento em Yucatán", 1982/83]

8 comentários:

  1. Só porque temos em comum uma certa fixação pelo mar...
    Seu blog é muito bom. O achei por acaso, mas tratarei de mostrá-lo a quem gosto.
    Parabéns pelos seu gostos, nem todo mundo consegue ser sensível a tantas coisas, tão diversas...
    Pelo blog, pela pessoa que você parece ser e por eu ser fã dos pernanbucanos - a partir de agora ganhas um aspirante a adimirador.
    Tudo de bom.

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  2. um fantástico poema de Al Berto, gostei muito!
    Obrigado

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  3. Não vale nunca a pena lutarmos contra as memórias...
    Elas são fieis companheiras!
    E por vezes oxalá não fossem.

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  4. A farpa, grata pelas tuas doces palavras.
    Um xero Pernambucano e especial a ti, em tons azulados e com aroma de maresia... ;)

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  5. Depois desta magnífica escolha poética, não publicaste mais nada... mas ainda não vi os outros blogs.
    Querida amiga, tem um bom fim de semana.
    Beijos.

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  6. Nilson Barcelli,

    Meu querido e sempre inspirado amigo, trabalho e estudo estão a me consumir...
    E os prazeres, cada vez mais escassos, dentre eles, o de publicar aqui em meu blog! Mas prometo este final de semana postar algo novo...
    Quanto aos meus outros blogs, não passam de stardust... rs
    Quem sabe, um dia, possam eles brilhar azuis e reluzir em direção tua.
    Um beijo azul.

    Adriana

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  7. mfc,

    Sim, estás certíssimo, trata-se de uma luta vã e quase sempre perdida.

    Engraçado... No entanto, por vezes, o que nos atormenta está no mistério, não achas...?

    Gosto dos teus comentários, muito e sempre.

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  8. Cara Ádria,
    minhas palavras nem de longe exprimem amabilidade e doçura como aquelas vindas de uma pernambucana inteligente e benevolente como você.
    Meu gosto pelo seu blog parte de encontrar algo bem diverso de minhas características pessoais que exprime o que há de mais bonito no humano. Temos capacidades de exteriorizar de formas bem diferentes interesses também diferentes que de forma nenhuma se contrapõem - antes se completam.
    Grato pela sua generosa acolhida.
    Espero que possamos um dia admirar o entardecer frente ao mar aí em Recife e jogar conversa fora.. Talvez voltar ao carnaval de Olinda (lugar maravilhoso).
    Não deixe de postar. É sempre bom poder ler e ver algo que valha a pena.
    Abraço e tudo de bom pra ti.

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