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" No Azul--qual uma esfinge--eu reino Indecifrada. " [Baudelaire]

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ela temia o fogo
- o sopro

mas com Ele sonhava
- voava

e seus segredos: alados, arados
em semeadura nova e esparsa
- nunca vã

eram soluços, espasmos
laços dados
desfeitos
em um peito inflamado

que floresciam invisíveis
sobre secreto prado
 ~ Adriana Gil

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

e assim você me faz:
trama arterial: alada e atrevida
de sal, água e coral

que sob quimérico vento boreal
aromas de azuis hibiscos insinua

fazendo surgir maremotos de desejos
incontidos – etéreos – abissais

todos eles
alheios à razão
 ~ Adriana Gil

imagem: Katsushika Hokusai (1760-1849)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012


Quando a pupila contrai ao medo
E dilata ao te sentir
Eu juro - falo - canto
Que nunca, antes, te vi

E o coração pincela rara tela
Em sinuosos tons de 'Déjà vu'
Eu clamo - rogo - peço
Pra você me colorir

E o tempo que me interpela
acelera para eu prosseguir
Eu nego - arremesso - escalpelo
Tudo que até aqui senti

Mas a tatuagem é chancela
E inspirada foi por ti
Eu quero - sonho - desejo
O teu beijo antes de partir


 ~ Adriana Gil


Imagem: Chagall

a moça da caravela
- azul, ligeira, singela
que sonha a noroeste
e tece, num tímido entrelaçar
o que seria um bordado
enquanto um jagunço inspirado
não cessa de lhe encantar...

 ~ Adriana Gil
 

domingo, 1 de janeiro de 2012

Soneto das metamorfoses

 [Quando Adriana é Carolina...]


Carolina, a cansada, fez-se espera
e nunca se entregou ao mar antigo.
Não por temor ao mar, mas ao perigo
de com ela incendiar-se a primavera.

Carolina, a cansada que então era,
despiu, humildemente, as vestes pretas
e incendiou navios e corvetas
já cansada, por fim, de tanta espera.

E cinza fez-se. E teve o corpo implume
escandalosamente penetrado
de imprevistos azuis e claro lume.

Foi quando se lembrou de ser esquife:
abandonou seu corpo incendiado
e adormeceu nas brumas do Recife.

[Carlos Pena Filho]